Série A de 2010 – Sonho que virou pesadelo para o Bugre

Para a Série A do Brasileiro a decisão da diretoria foi trazer Vagner Mancini para comandar a equipe, e o Bugre apostou em um elenco com vários jogadores experientes, com destaque para o atacante Roger, que mesmo tendo um passado negro em sua carreira, tornaria-se o principal destaque da equipe no início do Brasileiro, outro destaque nestes jogos iniciais (a competição seria interrompida para a disputa da Copa do Mundo) era Mazola, jovem revelado pelo São Paulo, mesmo clube de Roger.

Logo na estreia o Torcedor matou as saudades de vencer um jogo de Série A. No Brinco de Ouro, com gol de Roger, o Guarani vencia o Goiás com a seguinte escalação: Douglas; Rodrigo Heffner, Fabão, Aílson e Moreno; Renan, Paulo Roberto, Preto (Ricardo Xavier) e Baiano (Mário Lúcio); Mazola e Roger (Paulinho). Quanta saudade!

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E o período pré Copa do Mundo seria muito bom, o Guarani surpreendentemente fazia uma excelente campanha, empolgando o sofrido Torcedor e enchendo de esperanças. Nos sete jogos antes da paralisação o Bugre conseguiu surpreendentes três vitórias (Goiás 1×0, Vasco 1×0 e Grêmio Prudente 1×0), três empates (Atlético-PR 2×2, Cruzeiro 2×2 e São Paulo 0x0) e uma derrota (Santos 3×1). Roger era o artilheiro da competição com 07 gols marcados e o Bugre esperaria o reinício da Série A com 12 pontos ganhos, numa surpreendente e muito comemorada quinta colocação, brigando até por vaga na Libertadores da América. Parecia um sonho, não era, era começo de pesadelo.

Neste intervalo começaram os problemas, sem receber seus salários, o Guarani pagava uma parte e o São Paulo a maior parte, Roger aceitou uma proposta do futebol japonês e se transferiu, deixando o Bugre sem sua referência e seu principal jogador. Depois soube-se por declarações do próprio jogador que sequer a parte que o São Paulo depositava mensalmente na conta do Bugre era repassada a ele. Diante disso, desnecessário dizer que o grupo recém formado e de tão boa campanha já convivia com o atraso salarial, uma pequena mostra do que viria pela frente.

Na volta da competição foram cinco jogos sem vitórias com duas derrotas (Internacional 3×0 e Corinthians 3×1) e três empates (todos por 1×1 contra Botafogo, Ceará e Atlético-GO) e estava esgotada a gordura acumulada no sonho das cinco primeiras rodadas, o Bugre despencava para a 12ª posição, mas ainda tinha boa gordura dentro do seu objetivo inicial, estar entre os 16 clubes que se manteriam na Série A do Campeonato Brasileiro. A série de partidas sem vitória foi interrompida com uma goleada sobre o Avaí no Brinco (4×1), pouco para mais três jogos sem vencer, com uma derrota para o Atlético-MG (3×1 e dois empates, contra Palmeiras (0x0) e Vitória (1×1) e a preocupação já começava a bater mesmo antes do final do primeiro turno, com o Bugre encerrando a 16ª rodada na 14ª posição, uma gordura de apenas duas posições em relação ao rebaixamento.

A vitória voltaria a sorrir para o Bugre nas três rodadas finais do primeiro turno e começou com um jogo memorável. Contra o Flamengo no Brinco, convivendo com um fantasma que voltava a assombrar o Bugre numa Série A, os erros de arbitragem, o Guarani conseguiu algo que parecia impossível. Perdia a partida até os 45 minutos do segundo tempo por 1×0 e Ricardo Xavier já havia desperdiçado uma penalidade máxima, mas a Torcida explodiria de emoção aos 45 minutos o zagueiro Ailson empatava a partida. O empate já tinha sabor de vitória, mas a emoção fez os nossos corações baterem muito mais fortes quando, aos 47 minutos, o atacante Reinaldo que saiu do banco de reservas no intervalo do jogo marcou o segundo gol, o gol da virada, aos 47 minutos. INESQUECÍVEL!

O time que conseguiu este resultado heroico teve Emerson; Rodrigo Heffner, Rodrigão, Aílson e Márcio Careca; Maycon, Paulo Roberto, Baiano (Geovane) e Mário Lúcio (Reinaldo); Mazola e Rômulo (Ricardo Xavier). Técnico: Vagner Mancini.

Mais dois jogos com uma derrota por 1×0 para o Grêmio em Porto Alegre (gol marcado pelo atacante Jonas) e uma vitória novamente de virada em casa sobre o Fluminense por 2×1 e o Bugre encerraria o primeiro turno numa excelente nona posição, se permitindo sonhar com a volta a um torneio internacional, a Copa Sul Americana, realidade possível à época.

Que pena, o Brasileiro é disputado em turno e returno. Fora de campo a estrutura, ou melhor, a falta dela, voltava a ameaçar o Bugre, única equipe da competição a não conseguir um patrocinador máster para a competição. Nem mesmo a tão sonhada cota, que viria reduzida pelas penhoras e demais dívidas contraídas pelo Bugre junto ao C13, mas ainda vinha, foi capaz de fazer o Clube pagar salários, mas ainda assim o Guarani se mantinha fazendo uma campanha discreta, mas suficiente para seu objetivo, foi quando o inexplicável resolveu bater à porta do clube.

Na 26ª rodada o Clube foi a Presidente Prudente enfrentar o Grêmio Prudente (ex e atual Barueri), um desastre dentro de campo que mergulharia o Guarani numa crise em meio à competição. Placar final em Presidente Prudente, uma derrota por 4×2 (a partida estava 4×0 até os 33 minutos do segundo tempo quando Mazola cobrando pênalti marcou o primeiro e Reinaldo, no minuto seguinte, diminuiu o placar). Bugre em 11º lugar, mas time abalado e o comando de Vagner Mancini começava a ser contestado pela Torcida, muita pressão fora de campo, mas bastava ao Bugre cerca de duas vitórias nas 12 rodadas finais e o risco de rebaixamento estaria eliminado.

Tranquilidade e foco no objetivo? Não, desespero e uma série inacreditável de jogos sem vencer. Depois de vencer o Vasco pela 25ª rodada por 1×0 no Brinco, o Guarani acumulou, até a 35ª rodada um retrospecto impensável para um time que almejasse se manter na elite do Campeonato Brasileiro, além da derrota por 4×2 para o Grêmio Prudente que deu início a esta série, foram 5 derrotas (Internacional 3×0, Ceará 2×0, Atlético-GO 1×0, Avaí 1×0 e Palmeiras 1×0) e quatro empates (Botafogo 1×1, Corinthians 0x0, Atlético-MG 0x0 e Vitória 1×1. Após a derrota para o Palmeiras na 34ª rodada o Bugre entrava pela primeira vez na zona do rebaixamento, caindo para a 17ª posição.

Com tantos jogos sem vencer, restava ao Bugre aquilo que parecia (e de fato seria) impossível, vencer ao menos duas das três últimas partidas para tentar escapar do rebaixamento, mas o pior, se perdesse o próximo confronto contra o Flamengo no Rio de Janeiro, o clube estaria matematicamente rebaixado. Era uma decisão e o Bugre perdeu por 2×1, todos os gols marcados na primeira etapa. Com esta formação, o Guarani estava matematicamente rebaixado à Série B do Campeonato Brasileiro: Emerson; Apodi, Aislan, Aílson e Márcio Careca; Maycon, Baiano, Preto (Paulinho) e Barboza (Mário Lúcio) (Pablo); Mazola e Geovane. Técnico: Vagner Mancini.

As críticas já não eram críticas, a alegria do acesso recém conquistado havia acabado, afinal, foram duas péssimas campanhas na mesma temporada. Um primeiro semestre lutando contra o rebaixamento para a Série A3 e um segundo semestre que fez o Torcedor Bugrino sonhar com coisas boas, mas terminou com o gosto amargo de mais uma queda. Durou apenas uma temporada a aventura Bugrina na elite do Campeonato Brasileiro, mas ainda restava uma vergonha:

Faltavam dois jogos e o Brasileiro estava em sua reta decisiva, lutavam pelo título o Fluminense, líder do Campeonato, e o Corinthians vinha em seu encalço, na segunda colocação. Na última rodada qual era o adversário do Bugre? Ninguém menos que o Fluminense, e ai, já rebaixado, vindo de 12 jogos sem conseguir uma única vitória, eis o Guarani nas manchetes dos noticiários nacionais novamente, mas desta vez de foram vergonhosa, com nossos jogadores declarando publicamente que aceitariam a chamada “mala branca” oferecida pelo Corinthians para vencer o Fluminense na última rodada. Teve jogador que até ameaçou passar a conta corrente durante uma entrevista coletiva repercutida pelo Brasil inteiro, era o goleiro Emerson.

Desnecessário dizer que a esta altura a situação de não pagar salários há meses já estava pública também, e assim o Guarani foi a campo para a única coisa ainda digna que lhe restava: Perder para o Fluminense e não deixar seu Torcedor com o gosto amargo de ver que o time jogaria, se tivesse recebido. Isso aconteceu, o jogo terminou 1×0 para o Flu no Engenhão, com gol marcado por Emerson Sheik e viu os cariocas comemorarem o título do Campeonato Brasileiro de 2010 ao final da partida. Acho que esta foi uma das poucas derrotas que não doeram nos Bugrinos em toda a história.

A equipe que terminou a competição perdendo par ao Fluminense teve Emerson; Guilherme Mattis (Pablo), Aislan e Aílson; Apodi, Maycon, Paulinho, Ronaldo, Márcio Careca (Geovane) e Fabiano; Reinaldo (Douglas).

Muita revolta de uma torcida que viu seu time passar inacreditáveis 13 jogos sem conseguir vencer, viu seus jogadores serem ridicularizados publicamente e mancharem o nome do Guarani aceitando se vender por trocados oferecidos pelos corinthianos e ainda de quebra teve que aguentar algumas invenções na escalação como os contestados e de pouco talento pratas da casa Mario Lúcio e o atacante Diogo, que depois de ser titular por vários jogos da Série A do Brasileiro seria emprestado ao Comercial de Ribeirão Preto para jogar a Série A3 do Paulista e seria devolvido por deficiência técnica.

Marcos Ortiz
Planeta Guarani