O Fim da Era Leonel Martins de Oliveira

Nos bastidores, a situação de Leonel estava cada vez mais insustentável, mas há quem garanta que ele não acreditava que pudesse ser deposto. Tudo era motivo de críticas, e a oposição não perdia uma oportunidade.

Havia atraso de salários, e se questionava porquê o clube havia feito de tudo para reduzir o número de associados e proibir o ingresso de novos sócios. Afinal, só com a redução de receita que houve, pelos sócios que perdeu durante sua gestão, os salários estariam em dia.

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Um cheque foi dado na Secretaria em nome do Clube, e acabou descontado pela mãe de um Diretor. Virou um escândalo. Depois se esclareceu que o cheque foi utilizado para o pagamento de uma padaria que servia o clube, e esta o repassou para pagamento de aluguel à citada senhora. Era mera coincidência.

O Diretor de Comunicação, para justificar a aumento do valor de títulos patrimoniais para R$ 5 mil, discursava que como o clube era de primeiro mundo e caso fosse extinto, cada sócio ficaria com um valor bem acima disso. Ele sequer sabia que os estatutos preveem que, em caso de dissolução, todo o patrimônio restante seria distribuído a entidades assistenciais de Campinas. Alem disso, o clube social estava totalmente degradado e esquecido.

Os sócios ficaram estarrecidos com as afirmativas da Diretoria.

Leonel teria prometido apoio ao candidato apoiado pela Rede Globo para a presidência do Clube dos 13, mas acabou votando em Fábio Koff. Alguns clubes e a Globo trabalharam para extinguir o Clube dos 13 e o Guarani (e também a Portuguesa, que havia feito o mesmo) foram excluídos dos futuros contratos. Acabara a fonte de renda que sustentara o Clube por muitos anos.

Foram inúmeros os pontos criticados, principalmente pela falta de transparência, mas a casa caiu quando foi descoberto um contrato para venda do Brinco de Ouro para um banco de fachada, cujo endereço era o de uma cabeleireira, em Poá. A honestidade de toda a negociação foi colocada em dúvida.

Um fato não veio a público na época, mas enquanto o grupo Garra Guarani levantava erros processuais e administrativos em processos trabalhistas, foi descoberto que o zagueiro Aislan havia conseguido sua rescisão contratual através de uma liminar e um Oficial de Justiça esteve no clube, dando baixa na carteira profissional do atleta. A bagunça era tão grande que o RH recebeu o Oficial de Justiça, deu a baixa, mas não comunicou ninguém, e Aislan ainda permaneceu no Brinco e participou de 3 partidas. O advogado Paulo Souza, quando foi à Vara do Trabalho verificar a veracidade daquilo que aparecia no site do Tribunal da 15ª Região, telefonou de lá para o Técnico Giba, que mandou Aislan fazer as malas imediatamente e sumir do Brinco de Ouro. Por muita sorte, a Juíza, substituta, não comunicou a CBF, como é de praxe nesses casos, e Aislan viajou para o exterior atrás de um novo clube, não havendo qualquer alteração no BID.

Se algum clube tivesse descoberto a rescisão contratual, o Guarani estaria rebaixado para a Serie C, apesar de toda luta e sacrifício do “time de Guerreiros”, que estava jogando de graça, e comendo o pão que o diabo amassou (quando tinha). Isso foi mantido em segredo, mas a oposição, liderada pelos advogados Palmeron Mendes Filho, líder da chapa Mude Já, e Paulo Souza, presidente da ONG Garra Guarani, se uniu e conseguiu o número exigido de assinaturas de associados para exigir a convocação de uma Assembléia, e protocolizou o abaixo-assinado na Secretaria do Clube.

Depois de uma imensa briga judicial com liminar conseguida pela Diretoria evitando a realização e outra decisão judicial autorizando a realização da Assembleia Geral, ela foi convocada para o dia 21 de novembro, a partir das 20:00.

No dia uma mobilização poucas vezes vistas com Torcedores reunidos aguardando o resultado, carro de som e eu ali, transmitindo ao vivo pelo Planeta Guarani. Entrei no ar às 20:00, e pontualmente às 02:35 da madrugada de 22 de novembro foi possível levar o resultado a todos os que ouviam (e muita gente ouviu).

Leonel ainda tentou indicar um de seus parceiros para presidi-la, mas o estatuto era claro: quem indicava o presidente era a própria assembléia, e depois de muita discussão venceu Palmeron Mendes. Foi dado 5 minutos para cada sócio que quisesse falar, e foi um rosário de acusações de gestão temerária e falhas administrativas.

A votação foi aberta, ou seja, os sócios tinham que declarar seu voto, e pela primeira vez na história do Guarani Futebol Clube um presidente era cassado pela Assembleia Geral, por volta das 02:30 da madrugada do dia seguinte, depois de seis horas e meia de duração, terminava ali o ciclo iniciado no ano de 1969 quando ele assumiu seu primeiro mandato (tampão).

Pela madrugada se ouvia rojões não só na vizinhança do Brinco de Ouro, mas em toda a cidade, era a Torcida Bugrina comemorando a saída do presidente e acreditando finalmente que dias melhores viriam, mas principalmente, acreditando em uma nova mentalidade.

Ele ainda conseguiria articular um último ato e nomear seu sucessor, você pode conferir isso na sequência desta última parte desta série.

Marcos Ortiz
Planeta Guarani