Na Vitória ou Na Derrota, o começo do caos – Parte 06/08

Mais técnicos que Beto Zini, mais jogadores do que se possa contar e uma infinidade de processos trabalhistas. Essas são marcas registradas de José Luis Lourencetti, que presidiu o Guarani de julho de 1999 a abril de 2006. Ele foi o único presidente condenado na Justiça a restituir o Clube por má gestão e condenado pelo não recolhimento de encargos sociais. A seguir, em síntese, a história do futebol do Guarani durante sua gestão:

Talvez o maior erro da Gestão Beto Zini tenha sido não permitir o surgimento de novas lideranças, novos dirigentes que pudessem conhecer de futebol. Com sua saída, e a recusa do Vice José Carlos Cabrino em concorrer à presidência, buscou-se no clube alguém que pudesse recolocar o trem nos trilhos, mas não havia. A solução foi criar um “Grupo Gestor”, onde cada um comandaria um segmento, com autonomia, a partir de julho de 1999 até o final do ano. Quase todos os escolhidos haviam sido vices nas gestões de Beto Zini. Na presidência formal, para completar o mandato, ficaria José Luis Lourencetti (ex-diretor da Singer, aposentado, e na época comerciante – Foto). Sua experiência se limitava ao Depto. Social; outro comerciante (com graduação em Educação Física), André Ciarelli, comandaria o futebol; Milton Fernandes Alves, também comerciante, ficaria com o Social; Antonio Carlos Seccacci com o Marketing. Na presidência do Conselho Deliberativo, em substituição a Raul Celestino, que se demitiu em solidariedade a Beto Zini, entrava o também ex-vice Samuel Ribeiro Rossilho (que atualmente é Secretário Municipal de Desenvolvimento Econômico, Social e de Turismo).

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Como técnico, Carlos Alberto Silva foi trazido de volta, substituindo Estevam Soares. André Ciarelli, que depois convidou Roberto Constantino para auxiliá-lo, conseguiu, com uma equipe barata, chegar às quartas-de-final do Campeonato Brasileiro, sendo eliminado pelo Corinthians. Na partida decisiva, no Morumbi, o capitão Marcelo Souza ainda perdeu um pênalti. O time bugrino naquele 24/11/1999: Gléguer, Marinho, Marcelo Souza e Edu Dracena; Luciano Baiano, Valdir Souza (Ramos), Renatinho, Silvinho (Luiz Fernando) e Rubens Cardoso; Marcinho e Gilson Batata (Rodrigo Jaú).

O oitavo lugar, de qualquer forma, era a melhor classificação desde 1996, e a torcida estava feliz. Enquanto Ciarelli, Constantino e Carlos Alberto Silva comandavam o time, Lourencetti trabalhava nos bastidores para conseguir recursos. E conseguiu algo realmente importante: que o Guarani fosse admitido (o anúncio foi no final do ano), no “Clube dos 13” (a mesma entidade que tanto prejuízo trouxera ao Clube em 1987). Beto Zini garante que essas negociações vinham do “seu tempo”, mas o mérito caiu para JLL.

Entrando no Clube dos 13, o Bugre passaria a ganhar uma quota de televisão 9 vezes maior do que a dos clubes que não pertenciam à entidade. O fim da “Lei do Passe” foi até esquecido momentaneamente. Aí começava algo que não podia ter acontecido: com a expectativa de bons recursos financeiros, os contratos de vários jogadores foram renovados para o ano 2000 com até 100% de aumento. A folha de pagamento disparou.

Veio então a eleição de dezembro de 1999, para o quadriênio 2000/2003. Lourencetti se apresentou como candidato único e foi eleito por aclamação, mas acabava o “Grupo Gestor”. Quem mandaria seria o presidente, com os poderes que o estatuto lhe outorgava. Samuel Rossilho deixou o Conselho, sendo substituído por Carlos José Tozzi. Chegaram ao clube alguns amigos do presidente no Rotary Club, sem qualquer vivência no futebol ou mesmo no Guarani, assumindo cargos importantes.

Naquele ano de 1999, pela primeira vez se falava em vender parte do patrimônio para a construção de um Shopping, que garantiria uma renda vitalícia no futuro. Um grupo de empresários havia apresentado, ainda a Beto Zini, uma proposta pela área do CT, mas o político Antonio da Costa Santos abriu uma guerra contra a ideia, ameaçando tomar de volta o terreno, que havia sido doado pelo Poder Público. A proposta depois passou para a área das piscinas, ao longo da Av. Princesa D’Oeste, mas “Toninho” não aceitava em hipótese alguma um Shopping naquela região, considerada por ele histórica por ser antigo ponto de parada de tropeiros e Bandeirantes, e os investidores desistiram, indo construir um Shopping em Ribeirão Preto.

Chegamos ao ano 2000, naqueles primeiros dias Lourencetti era endeusado pela torcida e pela imprensa, e decidiu retomar a construção da Sede Social, iniciada por Beto Zini em 1989. Outro erro que iria acabar levando para o ralo mais alguns milhões. De positivo o Clube resolveu comprar, em parcelas, o terreno que estava sendo oferecido para a construção de um novo CT, à beira da Rodovia Bandeirantes.

No futebol, Ricardo Gomes veio para substituir Carlos Alberto Silva. JLL resolve contratar em definitivo o pequeno atacante Marcinho, junto ao América de Rio Preto, e dias depois recusou uma oferta milionária feita pelo Grêmio/RS por esse mesmo jogador. Até hoje é condenado por alguns por isso.

No Campeonato Paulista de 2000, dividido em várias fases, este foi o time da estréia: Gléguer, Rafael, Edu Dracena, Sorlei e Gustavo Nery (Renato Ferreira); André Gomes, Renatinho, Lindomar e Luiz Fernando (Luís Fernando Martinez); Marcinho e Romualdo (Fumagalli). Mas depois de uma derrota em casa para o União de Araras, o técnico Ricardo Gomes deixou o cargo e José Luiz Carbone foi trazido de volta. Não adiantou. O time chegou à segunda e à terceira fases, mas não chegou às semifinais, que era o prometido à torcida. Paralelamente, na Copa do Brasil, eliminou o Figueirense, mas parou no Flamengo, perdendo no Brinco e empatando no Rio.

Vieram as primeiras críticas ao futebol e, como resultado, em julho, André Ciarelli pede demissão, seguido pelo Diretor de Futebol Roberto Constantino. Para o lugar deste foi contratado o ex-ídolo Barbieri, mas sem poder para contratar ou dispensar ninguém. O futebol ficaria na mão do presidente e de seus auxiliares mais diretos, Antonio Seccacci e Luiz Alberto Ferrari.

Veio a “Copa João Havelange”, um campeonato brasileiro organizado pelo “Clube dos 13” que reuniu 116 clubes (a CBF, por um problema jurídico, foi proibida de organizar o Brasileirão sem o Gama de Brasília, que não aceitou seu rebaixamento em 1999). O Guarani começou mal. Havia trazido Darío Pereyra como técnico, mas ele resistiu somente por seis rodadas, e sem vencer nenhum jogo, Carlos Alberto Silva foi chamado de volta. O Bugre teve uma reação, mas não se classificou para as oitavas-de-final. O time na despedida da “Copa João Havelange” contra o Palmeiras no Parque Antartica: Gléguer, Edu Dracena, Gilmar Lima e Gláuber; Rafael (Márcio Rocha), Otacílio, Renato (Mabília), Fumagalli e Luís Fernando Martinez; Marcinho e Jaques (Marcus Vinícius). Técnico: Carlos Alberto Silva.

A administração JLL já apresentava desgastes, e as sucessivas trocas de treinadores não surtiam efeito. O dinheiro não era tanto como se pensara e o clube teve que responder a processos inesperados, como dois da Receita Federal cobrando verbas não declaradas corretamente quando das vendas de atletas ao exterior na gestão anterior, e até de uma empresa de manutenção de gramados, que fora proibida de entrar no Clube pelo ex-administrador Eduardo José Farah Filho, e ganhou na justiça o pagamento integral previsto no Contrato…

2001 seria um ano fatídico dentro de campo. Nas sete primeiras rodadas, o Guarani conseguiu 4 vitórias (contra AAPP, Corinthians, Portuguesa e União Barbarense), empatou duas (Mogi e Inter de Limeira) e só perdeu na estréia, para o Santos por 1 x 0, na Vila. Parecia tudo normal. Mas daí para a frente veio uma sequência de maus resultados absurda. No meio do caminho, ainda eliminou o Caxias (RS) pela Copa do Brasil, mas perdeu em casa para o Atlético/PR por dois gols de diferença e foi eliminado da Copa.

No futebol surgiram problemas sérios, e Carlos Alberto Silva afastou da equipe o lateral Marcinho, o atacante Jocivalter e o zagueiro/capitão Marcelo Souza, que teria ido cobrar salários atrasados dos jogadores ao presidente quando este anunciou a contratação do atacante Zé Carlos, antecipando luvas e três meses de salários.

Desde 1950 o Guarani disputava a 1ª Divisão de Profissionais do Campeonato Paulista, sem nunca ter sido rebaixado, e chegou à última rodada com esse risco. Enfrentaria a Portuguesa Santista, no Brinco, uma equipe que só “cumpriria tabela”, e o Bugre tinha uma pontuação que lhe permitiria escapar com um simples empate em 1 x 1, desde que vencesse (como venceu) a disputa de penalidades, pois o regulamento daquela competição garantia um ponto a cada equipe que empatasse marcando gols e dava mais um ponto ao vencedor das penalidades, mas não dava pontos por empates com placar de 0x0, neste caso apenas o time vencedor das penalidades levava um ponto. Se conseguisse no mínimo este resultado o Bugre jogaria o União Barbarense para o abismo (o Mogi Mirim já estava rebaixado, em último). Só não podia perder ou empatar em zero a zero. Nos bastidores o medo dos torcedores era grande. Uns sugeriam ao presidente combinar com a Portuguesa que cada time faria um gol no início, e depois a partida seguiria normalmente; outros recomendavam uma visita ao presidente da FPF, convidando o bugrino Eduardo José Farah para estar presente na partida, preferencialmente sentado no banco de reservas… Palpites não faltavam. Mas o presidente JLL garantia a todos: “Calma! Vai dar tudo certo!”. Mas não deu. O time nada produziu em campo e o placar final foi zero a zero… Até ganhou o ponto extra nos pênaltis, mas depois de 52 anos o Guarani estava rebaixado no Campeonato Paulista.

O trauma foi muito grande. Carlos Alberto Silva, inconformado com o golpe que o destino lhe pregara e aos prantos, deixou o Clube e foi substituído por Hélio dos Anjos para a disputa do Campeonato Brasileiro. Mas já havia também uma crise financeira instalada, que se tornou pública. Mesmo antes da chegada do novo técnico, cinco jogadores foram dispensados, sem receber salários de quatro meses, segundo eles (André Gomes, Marcelo Souza, Jorge Luís, Márcio Rocha e Henrique). JLL garantia que os salários estavam 3 meses atrasados, mas que os pagaria com um empréstimo bancário que a FPF ajudaria a conseguir. Um novo Gerente de Futebol foi contratado, Túlio Cunha Lima, que garantia a contratação de 5 reforços para o Brasileirão, com a quota de 2,1 milhões que o Bugre receberia do Clube dos 13 e com uma possível venda do zagueiro Edu Dracena que não foi concretizada.

Veio o Brasileiro e, logo de cara, uma derrota em casa para o Palmeiras (3 x 1) e depois uma goleada do Vasco (7 x 1) no Rio. O clima foi ficando cada vez mais pesado e Hélio dos Anjos, após a 4ª rodada sem vitória, foi substituído por Luiz Carlos Ferreira, o “Ferreirão”. Em 20 de agosto de 2001 o Guarani, em crise, anunciava a contratação do ex-meia Neto, como Gerente de Futebol, em substituição a Cunha Lima. Neto acalmava a torcida em entrevistas, elogiava o presidente e garantia dias melhores. O Bugre venceu pela primeira vez 10 dias depois, na oitava rodada (2×1 na Lusa, na Capital), mas perdeu em seguida para o Grêmio em Porto Alegre por 1×0 e essa foi a quinta e última partida de Ferreirão no comando do time, substituído por Zé Mário, que conseguiu terminar a competição numa posição intermediária (19º entre 28 equipes).

Nesse meio tempo, surgiu uma novidade. O presidente da FPF Eduardo José Farah, liderou a criação da “Liga Rio-São Paulo” e foi eleito seu presidente, prometendo para 2002 uma competição entre os melhores clubes dos dois estados que teria mais sucesso financeiro que os campeonatos estaduais e o próprio Campeonato Brasileiro. Seriam 16 clubes, os sete melhores do Rio e os nove melhores de São Paulo, incluindo-se o Guarani. Esses clubes não disputariam os campeonatos estaduais, que perdiam cada vez mais sua importância histórica. Com isso, o Bugre não disputaria a Série A2 em 2002, o que foi um alívio para a torcida. O Bugre havia tropeçado, sim, mas não caiu… E se o novo “Rio – São Paulo” fosse sucesso, o Paulistão “já era”.

Os clubes paulistas dominaram o Torneio Rio-São Paulo, em 2002. Corinthians, Palmeiras, São Paulo e São Caetano se classificaram para as semifinais. Os quatro últimos, em ordem decrescente, foram: Flamengo, Americano, Bangu e América. Mas o regulamento previa que o último paulista e o último carioca estariam rebaixados para o ano seguinte, e o Guarani empatou com Portuguesa e AAPP em número de pontos, mas teve um gol a menos de saldo que a “Xita”, gol esse marcado no final da partida contra o Palmeiras, na última rodada, e foi o último paulista. O alívio mais uma vez se transformou em tristeza.

Uma coisa não se pode negar: JLL tinha uma grande capacidade de fazer bons relacionamentos com dirigentes. Num desses encontros, conheceu o presidente do clube espanhol Villarreal, e o convenceu a convidar o Bugre para realizar uma partida na Espanha. Mas, na volta dessa viagem, antes do início do Campeonato Brasileiro, o time participou de um torneio em Marília e conseguiu empatar com o MAC e perder do União de Araras. Zé Mário acabou demitido e foi substituído por Jair Picerni, que resistiu durante todo o Brasileirão/2002, terminando na 16ª colocação, entre 26 clubes.

Um detalhe que pouca gente deve se lembrar. Em 2002, sem patrocinador master nas camisas, o presidente José Luis Lourencetti resolveu presentear o empresário Roberto Graziano, e mandou estampar sem cobrar nada em troca a marca “Magnum” nas camisas do Bugre. Se não me engano foram cinco partidas com esta cortesia, a aposta era que ao final a empresa voltasse a patrocinar o Bugre, mas isso não aconteceu.

Chegou 2003, o último ano do primeiro mandato da gestão JLL. Por pressão dos clubes e da própria CBF, que não via com bons olhos o crescimento de Eduardo Farah, a “Liga Rio-São Paulo” fora extinta. Os clubes voltariam a disputar os campeonatos estaduais, que tiveram melhores quotas de TV, graças a uma disputa entre SBT e Globo. Ocorre que no ano anterior, pela ausência dos “grandes” no Paulista, o Mogi-Mirim (lanterna no ano anterior) tivera seu rebaixamento cancelado. O Guarani, portanto, também tinha direito de participar da 1ª Divisão. Giba, com ótimo trabalho como técnico, principalmente no Paulista e no Santos, assumiu o comando da equipe. Com 21 clubes, o Paulistão foi dividido em três grupos de 7, e o Guarani terminou em segundo no Grupo 1. Nas quartas-de-final empatou em 0 x 0 com a surpreendente Portuguesa Santista do técnico Pepe, em Santos, e foi eliminado pela melhor campanha do adversário. Mas tudo tinha voltado ao “normal”, ao menos em termos de resultados no campo.

O Guarani também jogava pela Copa do Brasil. Eliminara o Pelotas na primeira fase e passou pelo Vila Nova de Goiás na segunda. Mas o Vila Nova ingressou na Justiça Desportiva alegando que o atleta bugrino Leandro Guerreiro não tinha condições de jogo, por não ter sido citado no recém-criado BID – Boletim Informativo Diário (que dá problemas até hoje). O Bugre apresentou documentos da CBF liberando o jogador e assumindo o erro, mas acabou sendo eliminado pelo STJD.

Em maio, sempre com o apoio da parceira Medial Saúde, a Diretoria aproveita o momento e lança a camisa dourada (pelos 50 anos do Brinco), fazendo grande festa. A prateada (pelos 25 anos do título de 78) viria em agosto.

Pepe, semifinalista do Paulista com a Portuguesa Santista, foi contratado para o Brasileirão de 2003 e resistiu até a 15ª rodada. Após uma derrota para o São Paulo, no Brinco, deixou o clube, sendo colocado em seu lugar o ex-atleta e treinador do time “B”, Barbieri. O Guarani terminou a competição em 13º lugar, entre 24 clubes.

Mas a quatro rodadas do final do Brasileiro (em 14/11/2003) havia explodido uma bomba que mudaria os destinos do Clube. Os jogadores bugrinos anunciaram uma greve, alegando estarem há dois meses sem receber os salários, premiações e direitos de imagens. Criticado publicamente até pelo diretor da Medial Saúde, o Gerente de Futebol Neto, acusado de não ter se empenhado para contornar a situação, pediu demissão e deixou o Clube. O fato é que o time estava bem montado e a expectativa era de que 2004 seria um bom ano para o Clube, mas todos os considerados “líderes da greve” acabaram sendo dispensados ao final da temporada, quebrando o entrosamento existente. Pior, trazendo uma leva de novas ações trabalhistas e de novas contratações duvidosas.

Mesmo com o tumulto, em dezembro ocorreu nova eleição e a chapa liderada por JLL foi a única a se inscrever, sendo reeleita novamente por aclamação. O estatuto havia sido alterado, pela entrada em vigência do novo Código Civil e o sistema de eleição passava a ser direta pelos votos dos sócios em Assembléia, e não mais pelo Conselho Deliberativo.

Depois de um mau início no Campeonato Paulista, Barbieri deixava o comando da equipe e em 08/02/2004 estreava o 14º técnico da administração JLL: Joel Santana. O recordista havia sido Zé Mário, que durou 11 meses. A média era de 3,8 meses… Não, não é “brincation”, como diria hoje em seus comerciais o grande Joel Santana… Como grande “jogada de Marketing” o Guarani, com apoio da Medial Saúde, contratou seu ex-algoz em 1988, Viola, que estava tão “forte” que os calções não serviam. Chegou a jogar com bermudas de passeio até que a Umbro fizesse alguns em tamanho especial. Mas o novo time teve um rendimento bem diferente daquele do ano anterior.

O Campeonato Paulista de 2004 teve novamente 21 clubes, divididos em dois grupos. No Grupo B, com 11 equipes, o Guarani teve uma campanha sofrível, com apenas 1 vitória em 10 jogos, e 8 pontos ganhos, graças a 5 empates. Mas foi o suficiente para não ser rebaixado. O time na última rodada. : Jean, Carlinhos (Jônatas), Paulo André e Tiago; Marlon, Roberto (Adílio), Loscri (Reinaldo), Alexandre e Patrick; Roncatto e Viola. Técnico: Joel Santana.

Na Copa do Brasil, passou pela Cacoalense com dois empates, graças a um gol marcado fora de casa (foi 1 x 1 lá e 0 x 0 no Brinco). Depois da eliminação no Paulista empatou com o América-MG em BH e venceu por 1 x 0 em Campinas, passando à terceira fase, onde empatou com o Santo André (que seria o campeão da competição) no Brinco por 1 x 1 e por 0 x 0 no ABC, sendo eliminado pelo gol que tomou em casa.

Pelo Brasileirão o Guarani jogou três vezes com uma camisa rubi, em homenagem aos 40 anos do seu patrocinador máster, a Medial Saúde (mediante uma “compensação financeira”). Dia 02/05/2004, contra o S. Paulo, em 08/05, contra o Atlético/PR (último jogo de Joel Santana como técnico) e em 16/05 contra o Corinthians, no Pacaembu, com Lino Facchini Jr no banco como treinador interino. Na partida seguinte, Zetti já seria o técnico. Zetti resistiu até a 18ª rodada, quando foi substituído por Lori Sandri. Lori durou 8 rodadas, e veio Agnaldo Liz. Viola estava afastado da equipe por indisciplina e Liz o perdoou, reintegrando-o ao elenco. Não adiantou, oito rodadas depois e quem se sentava no banco interinamente era Renato Frederico (que treinava a equipe B). Na partida seguinte estava Jair Picerni. Ele tinha 10 rodadas para conseguir o milagre de livrar a equipe do rebaixamento, mas não conseguiu. Em antepenúltimo entre 24 clubes, o Bugre acabou rebaixado para a Série B. No último jogo, contra o Grêmio (também rebaixado) entraram em campo: Jean, Mariano (Netinho), João Leonardo, Nenê e Patrick; Marcos Paulo, Simão (Roberto), Harison e Sandro Hiroshi (Adriano); Catatau e Roncatto. O time B disputou a Copa FPF (atual Copa Paulista) e foi vice-campeão, perdendo para o “Santos B”, mas e daí?

Para honrar seus compromissos, JLL conseguiu vários empréstimos na Federação Paulista de Futebol, mas como herança, além dessa dívida, o ano de 2004 ainda traria depois uma série de processos trabalhistas e, como seria descoberto, muitos sequer tiveram defesa ou a representação de um Preposto do Clube nas audiências, correndo à revelia. Viola, por exemplo, deixou o clube chamando publicamente o presidente JLL de “Peidão” e outros adjetivos impublicáveis por não honrar seus compromissos.

O zagueiro Paulo André, uma das maiores promessas do elenco, ganhou na Justiça o direito de reduzir dois anos do seu contrato, por ter pago do próprio bolso uma cirurgia no púbis.

O Presidente anunciou ainda uma estranha parceria com o Atlético-PR, que injetou R$ 1 milhão no Clube em troca de 50% dos direitos econômicos de seis jogadores das categorias de base do Alviverde (os escolhidos pelo clube curitibano foram Juninho, Simão, Adam, Jonas, William e Roberto). O contrato previa ainda a injeção de recursos do exterior de um grupo formado na Suíça, mas esse grupo jamais apareceu. Algum tempo depois, em reunião do Conselho Deliberativo do Clube o contrato foi apresentado e constatou-se que o valor era de R$ 2 milhões a serem pagos em duas parcelas, mas o Atlético-PR se recusou ao segundo por conta da ação movida pelo atacante Jonas que conseguiu sua liberação e se apresentou ao Santos no início de 2006. Detalhe 20% do valor total do acordo (R$ 400 mil) foram pagos a um empresário que teria intermediado a negociação, assim, restaram ao Guarani pífios R$ 600 mil e mais nada.

Picerni foi prestigiado e foi anunciado que permaneceria para o Paulistão de 2005. O Guarani perdeu a Umbro (dizem que por não pagar material adquirido para a loja do Clube, e por colocar uniformes usados à venda, prejudicando a venda de novos) e fechou com a Lotto como sua nova fornecedora de uniformes.

Já vivendo as consequências de seus problemas financeiros/administrativos, o Guarani passou por uma grave crise política no início de 2005 com a renúncia do então Vice Presidente Cid Ferreira, do Diretor de Marketing Marcio Cecacci, do diretor de patrimônio Norberto Secacci e do pedido de licença médica do Presidente do Conselho Deliberativo Carlos Tozzi. Clique aqui e leia matéria da época.

A oposição pressionava e JLL, cada vez mais sozinho, acabou concordando em abrir espaço, na administração, para um “Conselho Gestor” de cinco pessoas: os vices José Carlos Sícoli e Luiz Alberto Ferrari, Carlos Correia, Valdemir de Paulo e Álvaro Negrão, que prometiam reorganizar o Clube e reestruturar suas finanças, antes que fosse tarde. Os cinco, mais o presidente, tomariam todas as decisões por maioria de votos. Se dizia: “seis cabeças pensam melhor do que uma…”.

Não foi bem assim. O Conselho Gestor entrou e foi acusado de se “fechar” dentro do chamado “Queijo”, passando a tomar decisões sem o conhecimento do presidente e sem ouvir os diretores de área. Também foi acusado de demitir antigos funcionários sem nenhum critério e ter criado um ambiente de muito pessimismo e terror entre os que ficavam. Resultado: criou inimigos por toda parte e principalmente, pelo Clube. Pela primeira vez em sua história o Guarani tinha seus problemas tratados de forma pública com informações sobre sua dívida, suas receitas, a situação financeira, a necessidade de cortes nas despesas e os indícios de má gestão finamente estavam ali apresentados a todos de forma pública através da imprensa, para quem quisesse saber. Claro que não duraria muito tempo, não daria certo.

E realmente não deu. No dia 23 de maio, após uma entrevista de Álvaro Negrão a uma emissora de Rádio, Lourencetti – que já aceitava a idéia de renunciar – bateu na mesa e decretou o fim do Conselho Gestor, que durou apenas 81 dias no poder. Muitos sócios comemoraram. Lourencetti que tinha no quadro social talvez seu maior apoio declarou à imprensa: “Durante a presença do CG, cerca de 60 funcionários foram demitidos, entre eles o ex-goleiro Neneca, campeão brasileiro pelo Bugre em 1978, e que trabalhava nas categorias de base. O Neneca é um ídolo, jamais poderia sair assim. Essas pessoas (do CG) não sabiam nem o que estavam fazendo aqui. Mandaram embora até um funcionário com câncer”. JLL recontratou vários, inclusive Neneca (recém falecido). Por outro lado, Pedro Pires de Toledo, ex-Preparador Físico nos anos 70, havia sido colocado como Gerente de Futebol sem remuneração, e mesmo assim acabou demitido por JLL.

Já o grupo formador do agora extinto “Conselho Gestor” denunciava que a dívida aumentara de R$10 milhões para R$28 milhões em seis anos, e, para piorar, o Bugre tinha cerca de 120 ações trabalhistas na Justiça. Entre elas, algumas milionárias como a do goleiro Hiran (R$ 1 milhão) e do lateral-esquerdo Gustavo Nery (3 milhões), além de o processo do volante argentino Liberman, que esteve no Brinco de Ouro em 2003, com outros R$ 3 milhões de condenação em primeira instância. Cerca de 80 erros administrativos teriam sido encontrados por uma auditoria realizada pela Price.

Já estava em vigor a Lei Pelé, que previa pagamento da cláusula penal (200 vezes o salário anual do jogador) para rompimento unilateral do contrato. Como o Guarani não se defendia, a Justiça condenou o clube ao pagamento da cláusula penal para jogadores que saíram sem receber salários, considerando que isso significava quebra unilateral do contrato. O Guarani foi o único clube do Brasil que não conseguiu reverter essas decisões da Justiça, exatamente por não ter se defendido nem recorrido das sentenças. Daí surgiram os valores milionários que o Guarani deve para alguns ex-jogadores.

O fato é que, além de rendas e de algumas cotas do Campeonato Brasileiro, o Guarani já tinha sido alvo de penhoras em veículos, imóveis, contas bancárias e até o toboágua da parte social. Perdia jogadores por falta de pagamento de encargos sociais, como os meias Elano e Dinélson, o atacante Rafael Silva e o volante Émerson.

Enquanto isso, nas primeiras 7 rodadas do Paulistão, duas vitórias, duas derrotas e três empates… Veio a Copa do Brasil e o Bugre eliminou o CRAC de Catalão, empatando lá e vencendo por 2 x 1 no Brinco. Por essa altura o time era: Jean, Mariano, Paulo André, João Leonardo e Adalto; Marcos Paulo, Careca (Nilson Sergipano), Héverton (Catatau) e Tucho; Cidimar e Roncatto. O time foi melhorando no Paulista, mas acabou eliminado pelo Santa Cruz na 2ª fase da Copa do Brasil, e Jair Picerni não aguentou. Flamarion respondeu interinamente na partida contra o Palmeiras, em 17/04, pela última rodada do Paulistão (Guarani ficou em 11º entre os 20 clubes). Nessa partida um jogador titular bugrino estava escalado para jogar quando um dos bandeiras avisou que ele estava suspenso pelo terceiro cartão amarelo. Caso ele tivesse jogado, o Guarani teria perdido 6 pontos e teria sido rebaixado.

Na estréia da Série B do Brasileiro assumia José Carlos Serrão. Graças ao presidente do Conselho, foi conseguido um acordo com a Auto-Peças Furacão como patrocinador máster, já que a Medial Saúde decidira não renovar com o Clube. A Furacão já patrocinava os calções do time.

Luiz Alberto Ferrari e José Carlos Sícoli, que eram vice-presidentes nomeados, pediram demissão com o fim do Conselho Gestor, e foram substituídos por Edison Torres, empresário de 35 anos com profundo conhecimento de Marketing Esportivo (e que tinha trazido a Medial Saúde) e Eurides Coutinho, ex- Diretor Social e ex-Vice Presidente do Conselho Deliberativo.

Na sétima rodada da Série B quem estava de volta era Luiz Carlos Ferreira, o “Ferreirão”. Ele indicou uma série de jogadores que também acabariam não rendendo o esperado, mas o Guarani, que chegou a estar na penúltima colocação, escapou do rebaixamento, mas não se classificou para a terceira fase da Série B. Mais um ano fora da elite. O time na última partida: Fernando, Mariano, Paulão, Andrei e Adílio; Márcio Araújo, Rodrigo Sá, Adeílson (Willian) e Ênio (Emerson Guaranésia); Jonas e Edmilson (Adriano). Para fechar o ano o Guarani foi a Três Rios (RJ) onde disputou um Torneio de Verão. Venceu por 3 x 1 o Sub-20 do Botafogo do Rio e por 1 x 0 o Volta Redonda, conquistando o título.

Ferreirão foi mantido para 2006, e indicou mais uma leva de jogadores. O Guarani não renovou com a Lotto e acertou com a Finta e a equipe mantinha-se numa posição intermediária no Paulistão, enquanto disputava a Copa do Brasil onde os resultados não vieram como a diretoria esperava. Depois de apenas empatar com o Estrela do Norte, em Cachoeiro do Itapemirim/ES, pela Primeira fase e perder em casa para o Paulista de Jundiaí, ele saiu, entre outras coisas revelando problemas de bastidores relacionados à “parceria” que o Clube anunciara e que não aceitava a indicação de jogadores. Renato Frederico dirigiu a equipe principal interinamente contra Marília e Noroeste (com duas derrotas) e na vitória por 3 x 0 sobre o Estrela do Norte, no Brinco, passando para a 2ª fase da Copa do Brasil. Foi então anunciada a contração de Toninho Cerezo como técnico, uma contratação que seria bancada por um grande parceiro que se apresentava, a “multinacional” Turbo System SLR.

Quando desembarcou no Brinco de Ouro, o “empresário italiano” Nino Nicolleti, representante no Brasil da tal “Turbo System”, prometeu contratações do porte dos italianos Gianluca Pagliuca, Roberto Baggio e Alessandro Del Piero. Foi prometido também a apresentação de um contrato de parceria em 30 dias, com aplicação imediata de um milhão de dólares. No entanto, nem o contrato nem o dinheiro apareciam. Sem contrato e sem dinheiro, foram então apresentados como reforços o volante Zé Elias (ex-Corinthians) e o treinador Toninho Cerezo, que iria receber R$ 170 mil mensais da Turbo System, uma fortuna se um Guarani endividado tivesse que pagar. Os dois reforços acabariam não recebendo um centavo sequer da Turbo System. Descobriu-se que até a festa de lançamento da parceria, que aconteceu no salão nobre do Tênis Clube de Campinas, foi paga com um cheque sem fundos pelo “italiano”. Descobriu-se também que Nino Nicoletti era brasileiro (José Leria Nicoletti) e respondia a processos na Justiça Criminal, inclusive por estelionato. Lourencetti sabia de tudo ou também foi vítima, é o que se perguntava.

Como técnico, Cerezo estreou vencendo o Santos no Brinco em 12 de março e duas semanas depois eliminou o Potiguar, de Mossoró (RN), pela Copa do Brasil, vencendo o jogo de ida por 4 x 0, mas o time não ganhava de ninguém no Paulista. Parecia mesmo nem se esforçar para isso. Terminou inapelavelmente rebaixado para a Série A2. E desta vez não haveria um Rio-São Paulo para dar um jeito… O time do rebaixamento em 9 de abril (0 x 0 com o Mogi, no Brinco): Fernando, Mariano (Elvis), Rogério, André Conceição e Adílio; Goeber, Juliano (Rodrigo Sá), Gustavo e Bilu; Adeílson (Éder) e Edmílson.

Veio então, em 12 de abril, a partida pela 3ª fase da Copa do Brasil e o Bugre foi goleado por 5 x 1 para o Flamengo, no Maracanã. O ambiente político estava insuportável no Brinco de Ouro, com a oposição tendo até montado uma sede na Avenida Norte-Sul. Começou no dia 15 de abril a Série B do Brasileiro e veio uma vitória sobre o CRB em casa, mas esse foi o último jogo de Toninho Cerezo como técnico, que teve que buscar a Justiça para receber seus salários. Do Guarani, é claro…

Uma reunião do Conselho Deliberativo foi marcada para 18 de abril, terça-feira, e Lourencetti deveria mostrar que a parceria com a Turbo System era real ou o Conselho iria convocar uma Assembléia para destituí-lo. No meio da reunião, por telefone, sabendo da decisão em favor de uma Assembleia, ele comunicou sua demissão ao 1º Vice-Presidente, Edison Torres, que assumiria interinamente, enquanto não acontecesse uma nova eleição.

No dia seguinte, o Bugre venceu o Flamengo, no Brinco, por 1 x 0, mas pela goleada já sofrida, foi eliminado da Copa do Brasil. No banco, como técnico, estava Waguinho Dias, que acabaria sendo efetivado na função, e conseguiria alguns bons resultados até a 10ª rodada, a última em que dirigiu o time, vencendo a Portuguesa no Canindé e colocando o Bugre em 11º lugar na classificação.

A eleição foi marcada para 5 de junho, uma segunda. A oposição havia buscado em Leonel Martins de Oliveira um nome que, na teoria, poderia reagrupar antigos bugrinos e recuperar o apoio perdido nos últimos anos. Edinho Torres montou uma chapa ao lado de Maurício Bonzanini, outro jovem empresário, mas desgastado e envolvido em uma denúncia de alteração de datas de adesão de títulos de sócios para que estes associados pudessem votar, (CLIQUE E LEIA MATÉRIA DA ÉPOCA) abriu mão de sua candidatura no final da sexta anterior à eleição. Bonzanini, inconformado, apresentou-se como candidato a presidente pela chapa já inscrita, mas Leonel e sua chapa pediram a impugnação da chapa concorrente na abertura da Assembleia Geral de Associados, o que foi aceito. Três foram as alegações: não havia reconhecimento de firma nas fichas de inscrição, Bonzanini não tinha completado dois anos como sócio e a desistência de Edinho havia sido irregular. Sem eleição, Leonel foi empossado, já anunciando o veterano Carlos Gainete como técnico. O time acabou entrando novamente em parafuso e, com o agravante de perder 3 pontos por ordem da FIFA, por mais um “descuido” de JLL e seu Departamento Jurídico, acabaria novamente rebaixado. Mas essa é outra história, que será descrita na última parte desta retrospecção…

Conclusão

A gestão JLL foi, sem sombra de dúvidas, a que mais dinheiro movimentou a frente do Guarani, mas em contrapartida foi a gestão que mais contribuiu para o aumento das dívidas do Clube. A falta de zelo e critério nas contratações de funcionários, na gestão dos recursos e no acompanhamento dos novos processos trabalhistas trouxe prejuízos que até hoje são imensuráveis e, sem dúvida nenhuma, pesam na situação financeira atual do Guarani Futebol Clube.

Dentro de campo o Guarani, que até então lutava para se manter na elite das competições que disputava, despencou. Lourencetti assume o clube ao lado do Grupo Gestor e no seu primeiro semestre conquista uma oitava colocação no Campeonato Brasileiro de 1999, um início promissor, mas entrega o clube ao seu sucessor pela primeira vez desde 1950 disputando a Série A2 do Campeonato Paulista e a Série B do Campeonato Brasileiro. Não que isso não pudesse ser piorado (e foi), mas representa uma queda incrível se comparado ao Guarani tradicionalmente incomodando os chamados grandes e, via de regra, beliscando resultados de respeito e vagas em fases e decisões importantes.

Méritos: Foi na sua gestão que o Clube conseguiu finalmente adentrar ao Clube dos 13 e com isso, mesmo com uma quota muito menor que outros integrantes, inegavelmente se manteve até 2012 quando a entidade seria desfeita.

Outro mérito da gestão JLL foi a aquisição por um valor muito menor que o atual avaliado, do terreno às margens da Rodovia dos Bandeirantes. Valor da compra: R$ 806 mil, pagos em 13 parcelas de R$ 62 mil. Valor atual de avaliação: Superior a R$ 20 milhões. (CLIQUE E LEIA MATÉRIA DA ÉPOCA)

JLL assumiu o Guarani com uma aprovação de mais de 90% e deixou o clube envolvido em uma negociação até hoje nebulosa e nunca concretizada com o “empresário italiano Nino Nicolleti” que desmascarado publicamente soube-se à época tratar-se de José Leria Nicolleti e a empresa multinacional que ele representava, a Turbo System SRL que, pior ainda, nunca existiu.

Estima-se que nos anos em que o clube contou com o patrocínio da empresa Medial Saúde, aliado às quotas do Clube dos 13 e outras verbas de patrocinadores diversos, a receita era maior que R$ 13 milhões anuais, valor no mínimo três vezes maior que o disponível nos melhores momentos da gestão Beto Zini, claro, sem envolver a negociação de atletas, porém, talvez iludido, mal acompanhado ou mal assessorado, mas certamente incompetente, gastou muito mais do que arrecadou. Em alguns momentos de sua gestão estima-se que a folha salarial apenas do Futebol Profissional beirava a cifra de R$ 2 milhões mensais, gerando um déficit só deste departamento da ordem de R$ 900 mil mensais.

Outro fato marcante da gestão JLL no Guarani foram as poucas e conturbadas negociações de pratas da casa por valores muito menores do que os praticados pelo mercado da época, e a isso soma-se a perda, graças à falta de pagamento de salários ou de demais encargos sociais, de praticamente todas as revelações das categorias de base do Guarani Futebol Clube.

O que sobrou, JLL conseguiu mal negociar com o Atlético Paranaense em um contrato que envolvia os direitos dos mais promissores atletas da base por parcos R$ 600 mil.

Uma pena, era a grande oportunidade de um salto econômico/financeiro gigantesco na história do Guarani que, para continuar parecendo clube rico, se endividou cada dia mais.

Mas o maior “pecado” cometido nesta gestão não foi a perda de atletas valiosos, a má gestão dos recursos obtidos, a contratação de jogadores de qualidade duvidosa ou o sonho de uma parceria golpista que jamais se concretizou. O maior leso causado pela gestão JLL ao Guarani foi, sem sombra de dúvidas, a falta de representação nas audiências das reclamações trabalhistas movidas contra o Clube, pois com isso, alguns valores que teriam sido consolidados em algumas dezenas de milhares de reais, tornaram-se indenizações milionárias. Exemplo disso: O caso Lieberman, o Guarani devia ao atleta cerca de R$ 23 mil referente a salários atrasados, mas graças ao não comparecimento à audiência foi julgado a revelia e o jogador, representado pela advogada Gislaine Nunes, acabou tendo reconhecida uma dívida total de mais de R$ 3 milhões, valor este que, mais tarde corrigido, quase custaria ao Bugre seu Centro de Treinamentos em leilão público..

Este prejuízo talvez jamais consiga ser recuperado.

Ufa, depois de encerrarmos este “resumão” extenso de uma das épocas mais conturbadas da história do Guarani, vamos para outros momentos não menos conturbados, a volta de Leonel Martins de Oliveira, sua destituição e sucessão por Marcelo Mingone e a chegada de Álvaro Negrão, tudo isso em um único capítulo, a última parte de Na Vitória ou na Derrota.

Não se esqueça, é você quem ajuda a fazer esta história, foi você quem viveu tudo isso e a sua participação é extremamente importante para as conclusões que pretendemos chegar.

Até a próxima!

Marcos Ortiz
Planeta Guarani

12 comentários sobre “Na Vitória ou Na Derrota, o começo do caos – Parte 06/08

  1. Ortiz,

    Perfeito sua explanação sobre esse momento “sombrio” da história de nosso Bugre, infelizmente o início de tudo isso que ocorre hoje…
    Parabéns.

  2. Parabéns Ortiz, ótimo trabalho sobre a história do nosso Bugre e, sem dúvida, com grandíssima contribuição para a atual situação bugrina. Porém, tenho para mim – embora endeusado por muitos – o primeiro presidente a perder jogador na justiça, não pagar salários e direitos trabalhista foi o sr. Beto Zini. Há também os impostos que ele não pagava ou sonegava. Vide caso Djalminha. Por isso, entendo que o início da decadência foi na era do sr. Zini e, posteriormente, esse outro sr. acabou com o serviço.

    1. Obrigado, Fábio, como vai? Não houve perda de direitos de atletas na gestão Beto Zini porque a Lei Pelé entrou em vigor exatamente ao final dela, já quanto ao não pagamento de encargos trabalhistas e recolhimentos, este problema vem de mais longe ainda, vem da década de 1980… concordo plenamente com tudo o que escreveu, um começou, o outro executou e depois… vamos ver cenas do próximo e último capítulo, né?

      Abraço

      Marcos Ortiz

  3. Todos perguntam quem foi pior… Desde Beto Zini ( incluindo ele), TODOS foram péssimos. Mas o pior de todos foi JLL. Perdemos muitos processos à revelia e com isso nossas dívidas tornaram-se monstruosas…

  4. Parabéns pela matéria Marcos, esplêndida!!! Fiz parte do Esporte e Recreação na era JLL,(metástase), mas a estagnação do Guarani começou na era BZ, (início do câncer). Torço muito para que o nosso glorioso Guarani
    se “levante dessa cama”, curado!!!

    1. Obrigado Luiz Fernandes, concordo plenamente, ali o Clube faliu, passamos a viver exclusivamente do futebol. Resultado: O Clube conseguiu sustentar o Futebol por décadas, mas o Futebol não conseguiu sustentar o Clube… não que hoje conseguíssemos manter aquele número de sócios, porque a realidade é completamente diferente, mas talvez pudesse ter um desenho diferente e um quadro social maior que o atual

      Abraço

      Marcos Ortiz

  5. Caro Ortiz.

    Salvo estar sendo traído pela memória, pois não consultei nada, perdemos o Jean Carlo e o Pitarelli, ambos da administração Zini. Até pode ser que o desligamento tenha ocorrido posteriormente, mas a dívida era deixada pelo Zini. A ex. o Hiran foi goleiro da era Zini, mas a dívida só foi computada na era JLL, mas é sempre bom relembrarmos a história do bugrão. Abraços e até o próximo jogo

  6. Espetacular e emocionante sequência narrativa de períodos marcantes para nosso Guarani, seja pelo lado positivo qto pelo lado negativo.
    Concluo que nos restam: nossa brilhante história, o patrimônio, a torcida(O MAIOR PATRIMÔNIO), que porque incrível que pareça se mantém fiel e, principalmente, o ORGULHO de ser BUGRINO. Esses todos compõem nosso legado e é daí que temos que ressurgir das cinzas, tirando forças e afugentando os mal intencionados.

    Chega de exploração, incompetência, desorganização, amadorismo e interesses excusos.

    Desejo que todos aqueles, bem intencionados, que tenha poder e acesso as coisas do Bugre, que realmente se dediquem de corpo e alma na defesa de nossas causas, assim deve recomeçar a nossa reconstrução, com muita transparência e honestidade, isso daria toda a credibilidade para atrair muito mais colaboradores.

  7. Muito bom o texto Ortiz. Este que foi o primeiro periodo desanimador da nossã historia. Me lembro a dor de sentir o primeiro rebaíxamento. Isso era coisa de xiita, não do nosso glorioso Bugre. Mesmo assim eu zoava meus amigos xiitas de que o GFC era time grande e portanto “incaível”, quando houveram as mudanças dos campeonatos citados no texto, dizia que a virada de mesa era pra nos atender.

    Pra mim, os piores malfeitores do Bugre: familia “palicari” e jll . Recordo do Cerezo invadindo programa de TV ao vivo pra contestar BZ alegando que ele e seu filho NZ,agente fifa, conspiravam através de jogadores agenciados por este segundo. Foi este que ganhou na ida do Jonas ao peixe, certo?

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