Antonio de Lucca
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Lembramos apenas que as informações contidas neste material são as declarações e lembranças de pessoas que aceitaram dividi-las conosco e esta é a historia de Antonio de Lucca, italiano, nascido na cidade Belvedere Marítimo – Itália que era barbeiro assim como Pompeo de Vito e estava lá aos 16 anos no dia 01 de Abril de 1911 ao lado dos outros onze guerreiros fundadores do GUARANI FUTEBOL CLUBE.
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Esta entrevista é uma homenagem a memória de Odete de Lucca, filha de Antonio de Lucca falecida em 03 de Janeiro de 2006, infelizmente não houve tempo de conhecer suas historias e lembranças, mas fica aqui o reconhecimento do amor manifestado durante sua vida inteira ao GUARANI de todos nós.
Fui recebido num inicio de noite no mês de Janeiro de 2006 em uma casa situada à Rua Uruguaiana, para minha surpresa, muito próximo ao Brinco de Ouro da Princesa onde passo a frente todos os dias de jogos do GUARANI. Uma casa simples e uma família igualmente simples, mas de uma simpatia e união maravilhosas.
Fui recebido pelas senhoras Alayde de Lucca (81 anos), Cleide de Lucca (74 anos) ambas filhas de Antonio de Lucca e por Rita Stefanini neta do Sr. Antonio que naquele instante passaram a dividir conosco sua historia e suas lembranças.
A primeira colocação que fiz foi um pedido formal de desculpas pelo ocorrido e imediatamente avistei um sorriso na feição de cada uma delas para iniciarmos este trabalho.
Marcos Ortiz – É um prazer estar aqui com as senhoras e poder ouvir estas declarações que são prestadas neste momento.
Familia de Lucca – O prazer é todo nosso Marcos e apenas queremos deixar claro que neste momento não estamos aqui em nome de nenhuma vaidade pessoal ou familiar, estamos aqui apenas para contar a historia de Antonio de Lucca que esteve presente à reunião do dia 01 de Abril de 1911 na praça Carlos Gomes que deu origem ao GUARANI FUTEBOL CLUBE.
Marcos Ortiz – Para podermos iniciar esta entrevista nos apresentem então Antonio de Lucca, como era, quem era, as coisas pessoais sobre esta pessoa importante no inicio do nosso amado BUGRE.
Familia de Lucca – Papai era um homem pequeno e bravo, cobrava sempre o melhor possível das filhas, mas era ao mesmo tempo muito carinhoso, preservava sempre a família e fazia questão que todos almoçássemos juntos. Ele intimidava as filhas só no olhar, bastava um sinal e todas entendíamos o que ele queria dizer.
Marcos Ortiz – Antonio de Lucca era italiano, de onde veio e com quantos anos chegou ao Brasil?
Familia de Lucca – Papai nasceu na cidade de Belvedere Marítimo, na Itália. Aos sete anos de idade veio com a família para o Brasil e se instalaram na época na cidade de Tupã interior de São Paulo, somente aos quatorze anos ele e a família vieram para Campinas.
Marcos Ortiz – Seu pai também era barbeiro?
Familia de Lucca – Sim, papai era barbeiro como Pompeo de Vito, trabalhava na melhor barbearia de Campinas que na época ficava onde hoje é a Rua Thomaz Alves, mais precisamente em frente ao Jóquei Clube.
Marcos Ortiz – Antonio de Lucca morava aonde aqui em Campinas?
Familia de Lucca – Papai morava quase em frente à praça Carlos Gomes, no casarão onde hoje se encontra o bar Voga em frente ao Colégio Carlos Gomes.
Marcos Ortiz – Então podemos confirmar neste depoimento que a reunido de fundação do GUARANI ocorreu na praça Carlos Gomes como todos sempre soubemos ser a historia?
Familia de Lucca – Papai sempre deixou claro isto. A reunião aconteceu realmente no jardim Carlos Gomes. Alias queria deixar claro que eles já se reuniam no jardim em frente Carlos Gomes para jogarem futebol juntos, até que um dia resolveram que para isso tinham que montar um time.
Marcos Ortiz – Então o “jardim” Carlos Gomes era o lugar de diversão deles?
Familia de Lucca – Sim, eles já se divertiam neste local. Encontravam-se sempre aos finais de tarde e juntos brincavam e jogavam bola entre os amigos. Inclusive mesmo antes da fundação do GUARANI houve muitos encontros no jardim onde eles discutiam esta possibilidade.
Marcos Ortiz – Seu pai jogava futebol no time do GUARANI?
Familia de Lucca – Papai gostava de brincar de bola mas, não era dos melhores jogadores, assim eles decidiram montar o time e imediatamente já passaram a delegar funções, e quem não tinha habilidade no futebol, foi cuidar da área burocrática, e este foi o destino de papai que era conhecido pelos amigos como Bebé.
Quem gostava muito de jogar futebol era meu tio, Paschoal de Lucca que depois acabou tornando-se juiz de futebol, e este é um capitulo a parte nesta historia.(Neste momento as irmãs se olham e começam a rir)
Marcos Ortiz – Poderiam nos contar este capitulo a parte?
Familia de Lucca – Papai não era freqüentador assíduo, só jogava futebol no inicio e com o passar do tempo e a chegada de outras pessoas ele acabou se afastando do GUARANI, mas eles eram na verdade um grande grupo de amigos.
Mas tio Paschoal não, este era muito briguento e quando apitava os jogos do GUARANI ele roubava muito, mas muito mesmo a favor do GUARANI e isto causava muitas discussões e algumas brigas. Por isso papai que sempre gostou muito de assistir os jogos teve que parar por que ficava muito triste quando começavam a xingar o juiz que era seu irmão Paschoal.
Marcos Ortiz – Mas Paschoal era “ladrão” mesmo?
Familia de Lucca – (Novamente com um grande sorriso no rosto) Ele roubava descaradamente, até que um dia pararam de aceita-lo nos jogos do GUARANI. Nossa família sempre foi muito unida Marcos, é bom dizer que papai teve ao todo seis filhos e entre eles cinco foram mulheres e um apenas foi homem que infelizmente faleceu aos quinze dias de vida, mas foi batizado por papai com o nome de Paschoal de Lucca e um dos filhos de tio Paschoal chama-se Antonio de Lucca.
Marcos Ortiz – Quando aconteceu o casamento de Antonio de Lucca?
Familia de Lucca – Ele casou se em Aracy Cordtz de Lucca, em 08 de maio de 1919. Criaram quatro filhas, com os nomes de Odete de Lucca, Wanda de Lucca, Cleide de Lucca Belloni e Alayde de Lucca Roselli, as duas únicas vivas somos nós, Alayde (81 anos) e Cleide (74 anos) as outras duas infelizmente se foram, Wanda em 05 de Maio de 1992 e Odete que nos deixou a poucos dias em 03 de Janeiro de 2006. Alem destas, Célia de Lucca faleceu aos três anos de idade e Pachoal de Lucca que faleceu aos quinze dias. Esta é a nossa família.
Odete era entre todas nós a mais apaixonada pelo GUARANI por quem ela tinha verdadeira devoção.
Marcos Ortiz – Como ela tinha esta devoção toda ao GUARANI as senhoras poderiam nos contar algumas de suas historias?
Familia de Lucca – Sim podemos. Para começar me lembro que em 1949 quando o GUARANI foi campeão da divisão de acesso do campeonato Paulista, a Odete quebrou o pé de tento pular de alegria pela conquista, papai não, papai era contido e de pouca fala.
Odete trabalhava no setor de ginecologia do antigo INPS e naquela época o GUARANI não tinha condições de pagar aos médicos para atender aos jogadores machucados assim eu me lembro bem que o próprio Jóca que hoje ainda trabalha no GUARANI ligava para ela e ela dava um jeitinho de marcar as consultas e os exames para os jogadores não terem que esperar nas filas.
Lembro-me de uma outra ocasião quando o Santos de Pelé veio a Campinas jogar contra o GUARANI. Isto aconteceu logo após a copa de 1970 e todos queriam ver Pelé. Acontece que o Santos acabou ganhando o jogo e Odete ficou muito aborrecida e saiu para a rua como se esperasse alguma coisa.
Marcos Ortiz – E ela esperava?
Familia de Lucca – Sim, depois descobrimos o que ela esperava. Nós morávamos aqui nesta casa e o ônibus do Santos passaria em frente quando estivesse indo embora, então Odete ficou lá parada esperando o ônibus passar e quando passou ela não se conteve e começou a xingar Pelé que estava sentado em uma das janelas.
Ela teria gostado muito de poder dar esta entrevista, mas infelizmente Deus a levou antes. Odete era tão fanática que mesmo depois de papai ter falecido ela fez questão de manter a cadeira cativa com o nome da família no Brinco de Ouro da Princesa e não se conformava quando soube que tiraram os nomes das cadeiras. Inclusive quando nosso tio morreu, ela não se conformava, pois a cadeira foi transferida para seu cunhado e ela não aceitava o fato de tirarem o sobrenome de Lucca daquele lugar.
Marcos Ortiz – Dentre todos os onze quem era o maior amigo de Antonio de Lucca?
Familia de Lucca – A maior amizade de papai foi com Pompeo de Vito. Esta amizade entre as famílias foi cultivada pela Odete, e mesmo depois do falecimento de papai a amizade continuou ao ponto de os dois (Pompeo e Odete) terem trabalhado juntos na Casa de Saúde. O senhor Pompeo sempre dizia que sentia saudades do amigo Bebé.
Marcos Ortiz – Seu pai faleceu quando?
Familia de Lucca – Papai faleceu em 04 de Setembro de 1956 e tanto ele quanto tio Paschoal e Odete tiveram a bandeira do GUARANI sobre seus caixões.
Marcos Ortiz – Como esta família esta envolvida com o GUARANI hoje, vocês saberiam me dizer?
Familia de Lucca – Odete era a mais apaixonada, mas esta família de Lucca é toda apaixonada pelo GUARANI, nós suas filhas ainda acompanhamos os jogos pelo radio e pela TV e vou te confessar uma coisa, quando o GUARANI joga, eu peço pela alma de papai e do Sr. Pompeo, para que eles ajudem a empurrar a bola.
Mas isto hoje já está garantido no papel de nossos netos, veja bem, minha neta Raquel é doente pelo GUARANI e aqui em casa quando todos eles estão reunidos não se ouve outro assunto além de GUARANI.
Marcos Ortiz – Quando o GUARANI foi campeão brasileiro em 1978 seu pai já havia falecido, vocês podem nos contar sobre o que se lembram daquele dia?
Familia de Lucca – Quando o GUARANI foi campeão nós assistimos ao jogo pela TV e com todas as portas abertas. Não fomos ao estádio e ficamos em casa torcendo e sofrendo muito. Quando a partida terminou a alegria foi tremenda e fizemos uma verdadeira festa com direito à muita champanhe.e tudo.
Nós colocamos o hino do GUARANI para tocar pela janela e a torcida que saia do estádio invadiu nossa casa. Ninguém sabia que ali morava a família de um dos fundadores do GUARANI, mas a festa era tamanha que isto chamava a atenção de todos que entravam, comemoravam conosco e tomavam champanhe junto a todos nós. A alegria foi imensa e não dava para não nos lembrarmos de papai naquele momento e agradecermos a Deus, a ele e todos seus amigos que possibilitaram a existência do GUARANI para nossa alegria.
É uma pena que hoje alguns torcedores do outro time que sabem que a gente é BUGRINO passe e atira pedras em nossos vidros que constantemente tem que ser trocados.
Marcos Ortiz – É inevitável a pergunta e quero fazê-la agora ao final deste depoimento. Sua família e a família de Sergio Luiz De Luca se conhecem? Existe alguma possibilidade de parentesco entre elas?
Familia de Lucca – Marcos eu me lembro que uma vez papai chegou a comentar conosco que sabia de um Antonio De Luca que morava na rua Luzitana se não me engano e até brincou sugerindo que podiam ser parentes mas nós sabíamos que não havia nenhum parentesco.
Nós não queremos acusar ninguém nem dizer nada alem do fato que Antonio de Lucca, nosso pai esteve presente na reunião do dia 01 de Abril de 1911 na praça Carlos Gomes quando foi fundado o GUARANI FUTEBOL CLUBE, ele era italiano, faleceu em 1956 e foi inclusive reverenciado pelo GUARANI em memória quando da comemoração de seu aniversario de cinqüenta anos pela revista do jubileu de ouro do clube em 1961.
Neste momento nos despedimos das senhoras Cleide de Lucca Belloni e Alayde de Lucca Roselli, filhas de Antonio de Lucca, primeiro procurador da historia do GUARANI e que trabalhou durante os três primeiros anos de sua historia como cobrador das mensalidades dos sócios BUGRINOS de sua época.
A elas e a toda a família nossos mais sinceros agradecimentos e nosso pedido de desculpas pelo equivoco cometido. Esperamos um dia podermos reparar este fato e agora a única coisa que podemos fazer é trazer a historia desta família a toda a FAMILIA BUGRINA.
Esperamos ter conseguido apresentar a todos os BUGRINOS a pessoa de Antonio de Lucca, fundador e primeiro procurador constituído na formação da primeira diretoria do GUARANI FUTEBOL CLUBE.
Agradeceríamos se pudéssemos contar com a compreensão de todos e apenas em nossas desculpas um pequeno argumento que nunca justificará, mas talvez diminua um pouco o fardo em nossos ombros.
Estamos tentando recuperar uma historia acontecida há noventa e cinco anos atrás e isto não é muito fácil ser feito sem o apoio nem o acesso a toda a documentação guardada pelo GUARANI onde esta historia é oficialmente contada. A cada dia que passa a fonte deste trabalho vai se esgotando, estas memórias vão se tornando escassas e o tempo a todos leva. O que sobra são os resquícios da historia que nós aqui tentamos retratar.
Marcos Ortiz
Planeta Guarani[/vc_column_text][/vc_column][vc_column width=”1/3″][vc_widget_sidebar sidebar_id=”home_1″][/vc_column][/vc_row]