Ângelo Panattoni
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Seguimos na trilha dos DOZE GUERREIROS e neste caminho encontramos com o Senhor Doutor Fernando José Rezende Panattoni, advogado e para nossa imensa alegria, mais um BUGRINO apaixonado.
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Fomos recebidos no dia 05 de dezembro de 2005, num final de tarde, para uma entrevista que acabou se tornando um enorme depoimento de amor eterno ao GUARANI e uma deliciosa oportunidade onde conhecemos mais uma pessoa plena de sangue verde em suas veias.
Dr. Fernando nos recebe em seu escritório, com um sorriso estampado no rosto, uma prontidão surpreendente e uma memória invejável.
É esta a história que agora queremos dividir com todos vocês, e esperamos conseguir faze-lo com riqueza de detalhes e emoções, em mais um presente para toda a TORCIDA BUGRINA. A partir de agora, esta é a série OS DOZE GUERREIROS no capítulo ANGELO PANATTONI.
Marcos Ortiz, da redação do Planeta Guarani.
Marcos Ortiz– Dr. Fernando, é um prazer podermos contar com a sua ajuda na seqüência dos depoimentos sobre a origem do GUARANI FUTEBOL CLUBE.
Dr. Fernado Panattoni – Amigo, poder falar do GUARANI é a maior alegria da minha vida, o prazer é todo meu, e quero aqui agradecer a iniciativa que vocês estão tomando de apresentar à torcida os nossos fundadores.
Marcos Ortiz– Nos apresente então, a pessoa que o Senhor representa neste momento.
Dr. Fernando Panattoni – Eu falo aqui em nome de meu tio, Ângelo Panattoni, um dos doze jovens que um dia se uniu a outros, num fim de tarde na cidade de Campinas, na Praça Carlos Gomes e decidiram montar mais um time de futebol em Campinas.
Marcos Ortiz– Aproveitando sua declaração, surgiu em um momento a informação que a reunião do dia 01 de abril de 1911 poderia ter sido realizada naquela que hoje se chama Praça Bento Quirino e não na Praça Carlos Gomes. O Senhor confirma então esta reunião na Praça Carlos Gomes?
Dr. Fernando Panattoni – Confirmo sim, a reunião que deu origem a fundação do GUARANI ocorreu na Praça Carlos Gomes, nas esquinas das Ruas Irmã Serafina com Rua Conceição; é isto que meu tio sempre nos disse, com confirmação por suas irmãs, Aurora e Helena, também já falecidas.
Marcos Ortiz– Dr Fernando, quem era seu tio, digo, a pessoa Ângelo Panattoni?
Dr. Fernando Panattoni – Meu tio era mais um “italianinho” das muitas famílias de italianos que vieram viver no Brasil e se encantaram com este país, ele era uma pessoa simples, muito humilde mesmo, sem posses. Trabalhava como auxiliar de barbearia.
Marcos Ortiz– Seu tio era barbeiro? Sabemos que o Sr. Pompeo de Vito também o era.
Dr. Fernando Panattoni – Sim, meu tio era barbeiro, e morreu barbeiro, nunca teve bens materiais, nem tão pouco escalada social; quando participou da fundação do GUARANI, era barbeiro, e morreu barbeiro, lá em Uberaba/MG.
Marcos Ortiz– Há alguma particularidade que possa nos contar sobre seu tio?
Dr. Fernando Panattoni – Meu tio era estrábico, por este motivo, seu apelido era Camões, em alusão a Luiz Vaz de Camões, o ilustre poeta português, que perdera o olho direito, em ceuta, em escaramuças com os mouros. Seu apelido entre os familiares era “Angelino”, uma maneira carinhosa de usar o diminutivo de seu nome.
Marcos Ortiz– Seu tio jogou no GUARANI?
Dr. Fernando Panattoni – Jogou sim, desde o primeiro time, sua posição era lateral esquerdo, e ele se orgulhava muito disso, como ele costumava dizer, era “alfo esquerdo” do GUARANI. Aliás, se me permite fazer um comentário, tenho a informação de que este time formado basicamente pelos fundadores e alguns agregados, era um belo time, jogavam muito bem desde o início.
Marcos Ortiz– Qual era a relação da família Panattoni com o GUARANI?
Dr. Fernando Panattoni – Meu Deus, a família se aliou integralmente ao GUARANI e ao amor de “Angelino” ao GUARANI. O grande feito de meu tio nesse momento foi ter promovido a união da família em torno daquele time de futebol, o compromisso de toda a família, aí temos seus irmãos “Adino” (diminutivo de Adão), Ferdinando, que era meu pai, Helena e Aurora. Todos eles se concentravam com os demais amigos BUGRINOS e o ponto desse encontro era sempre os jogos do GUARANI, onde quer que o time fosse jogar, lá estava sempre toda a família, apoiando e torcendo muito pelo GUARANI e por “Angelino”. A paixão era tanta, que minha tia Aurora era quem lavava os uniformes do time, e o fazia sempre com um sorriso no rosto e com um prazer enorme, por estar ajudando a todos que faziam nascer o BUGRE naqueles momentos.
Marcos Ortiz– Eu tenho que repassar ao senhor esta pergunta. A intenção destes jovens que se reuniram naquela tarde era em algum momento criar um clube ou simplesmente um time de futebol?
Dr. Fernando Panattoni – Eu não tenho dúvidas que eles queriam apenas montar um time para poderem praticar futebol, eram todos pessoas muito simples, na maioria apenas de nível primário de ensino; sinceramente, acredito que eles nem soubessem como estruturar ou administrar um clube naquele primeiro momento. A maior prova disso é que eles jogavam em qualquer lugar onde fossem convidados a jogar, sequer cogitavam nesse primeiro momento a idéia de construírem uma sede ou terem um campo onde pudessem mandar seus jogos. E quanto à primeira reunião, que decretou a fundação do clube, não há dúvidas de que era em número de 12, os presentes.
Ortiz, a maneira mais fácil de comprovar isto é você pensar o seguinte: do que eles precisavam pra montar um time de futebol? precisavam de onze jogadores e quantos se reuniram para criar este time?
Marcos Ortiz– (Neste momento, passo de entrevistador a entrevistado) Tenho certeza que eles precisavam basicamente de onze jogadores.
Dr. Fernando Panattoni – Sim, exatamente isso, mas conseguiram alem desses onze jogadores, trazer consigo Pompeo de Vito, que não jogava futebol, mas que foi a grande pessoa na estruturação do GUARANI, foi nosso primeiro homem de bastidores e a partir desse momento, passaram a ver a possibilidade do surgimento de um clube.
Outra situação que me lembro muito bem, é quanto àquela historia do nome mudar de GUARANI para Internacional. Aquela idéia não acabou após o termino da reunião onde Vicente Matallo bradou (“É GUARANI e pronto!”). Alguns ainda acreditavam que para representar que o time era composto por europeus ou por descendentes de europeus, o nome Internacional retrataria melhor a origem do time, pois todas as suas famílias tinham vindo do exterior.
Marcos Ortiz– E como isso foi resolvido?
Dr. Fernando Panattoni – Durante outra reunião, algum deles pôs ponto final a esta questão, mas não sei dizer qual deles, afirmando que a Ópera do Maestro Carlos Gomes denominada “Il GUARANY”, era internacional, pois tinha sido composta na Itália e era executada nos teatros europeus, argumento mais que suficiente para convencer a todos da internacionalidade do nome “GUARANY”. A partir deste momento sim, estabeleceu-se o consenso quanto ao nome do time.
Marcos Ortiz– O Senhor desempenhou alguma função no mundo do futebol Dr. Fernando?
Dr. Fernando Panattoni – Sim, quando jovem, precisava trabalhar para custear meus estudos, dessa maneira acabei sendo repórter do Jornal “A Gazeta Esportiva” e cobria, na época, as categorias de base do GUARANI, depois passei a cobrir o time profissional e, por fim, terminei minha carreira nesse meio como Diretor da Sucursal de Campinas de “A Gazeta Esportiva” (neste momento, o Dr. Fernando Panattoni nos apresenta com orgulho e emoção pessoal muito grande, uma enorme quantidade de jornais de época, com suas matérias sobre o GUARANI).
Marcos Ortiz– Seu tio faleceu quando?
Dr. Fernando Panattoni – Meu tio faleceu em 1942, aos 48 anos, na cidade de Uberaba/MG., e está sepultado lá mesmo, no Cemitério São João Batista. Ao falecer ele deixou duas filhas, Ângela e Conceição, que passaram a residir com minhas tias, Aurora e Helena, que também o eram delas, irmãs de Ângelo. Quando meu tio faleceu, ainda trabalhava como oficial barbeiro em Uberaba e não tinha grandes posses, mas toda a família continuava apaixonada pelo GUARANI. Tenho certeza de que ele estaria muito orgulhoso se pudesse ler estas linhas dedicadas à história do GUARANI, em sua homenagem, pois durante muitos anos, a história do GUARANI não foi contada na sua íntegra.
Marcos Ortiz– Em que momento isso foi reparado?
Dr. Fernando Panattoni – Eu não me lembro a época exata, mas fomos procurados pelo Jornalista João Caetano Monteiro Filho, do Jornal Diário do Povo, outro grande BUGRINO que também nos deixou, infelizmente, autor do nome do nosso estádio, e que havia começado a fazer um levantamento da história da fundação. Até aquele momento, os fundadores reconhecidos eram Pompeo de Vito, Hernani Matallo, Antonio de Lucca e José Trani, mas foi graças ao trabalho desse grande BUGRINO e de outros, que a TORCIDA pode conhecer a verdadeira história do GUARANI e todos os seus fundadores. Infelizmente, nesse momento, muitos deles já não estavam mais entre nós e não puderam ver seu reconhecimento histórico.
Marcos Ortiz– Seu tio já não era vivo quando o GUARANI foi Campeão Brasileiro em 1978, então, gostaria que o Senhor nos desse seu depoimento sobre sua emoção naquele dia 13 de Agosto.
Dr. Fernando Panattoni – Em 1978, eu era Juiz Titular da Comarca de Pirassununga/SP. , mas mesmo assim, eu fui a todos os jogos no Brinco. Lembro-me de uma passagem muito engraçada, eu vinha com o motorista, em meu carro, uma Caravan e muitas vezes aproveitava a viagem para dormir, pois tinha trabalhado o dia todo. Em um certo dia, uma de nossas amigas viu esta cena do banco deitado e eu deitado no carro, e imediatamente ligou para minha esposa perguntando se eu estava com algum problema de saúde, pois havia me visto deitado no carro como se estivesse passando mal.
Marcos Ortiz– E qual foi a resposta de sua esposa?
Dr. Fernando Panattoni – Minha esposa deu um enorme sorriso e disse para essa amiga que eu estava indo era para meu compromisso maior, o jogo do GUARANI.
Marcos Ortiz– Qual foi a emoção ao ver o nosso BUGRE Campeão do Brasil?
Dr. Fernando Panattoni – Foi a maior emoção da minha vida esportiva, nunca senti tamanha alegria. Naquele dia, eu acordei com um único compromisso em mente, nada mais me ocorria, apenas o jogo final do Campeonato e foi muito difícil esperar que ele chegasse. Mas este dia me trás um problema familiar até hoje.
Marcos Ortiz– Qual é este problema?
Dr. Fernando Panattoni – Eu tenho dois filhos, mas o caçula tinha apenas três anos naquela época, desta maneira, só pude levar o mais velho ao estádio. Meu filho caçula me cobra até hoje este fato de não poder ter visto o GUARANI ser Campeão. Posso te dizer que esta é uma das maiores frustrações de minha vida.
Lembro-me que após o fim daquele jogo, fiz questão de ir ao Centro da cidade, para ver a festa que acontecia, e me encontrei com um amigo, que também era jornalista e BUGRINO, o Odhemar Teizen e enquanto nós conversávamos e comemorávamos embaixo de alguma janela, uma pessoa, provavelmente torcedora de algum outro time, arremessou todo o conteúdo de um balde cheio de água. Felizmente, para mim, a água acabou acertando apenas ao Odhemar, mas nossa alegria era tanta que esse fato sequer incomodou nossa comemoração. Era um sonho ver a cidade tomada por aquela multidão de BUGRINOS que comemoravam o título.
Quando você me perguntou sobre a intenção dos jovens ao fundarem o GUARANI, eu agora me recordo de um evento de que participei, ao lado do grande amigo, Pompeo de Vito. Lembro-me que perguntei a ele sobre isso, e ele me respondeu, imediatamente, com os olhos cheios d’água, que nunca lhe passara pela cabeça o futuro glorioso e as dimensões que aquele time que eles resolveram criar, se tornasse neste gigante que hoje podemos ver. Eram apenas doze jovens, que queriam se divertir, e acabaram causando uma transformação na história do nosso futebol.
Marcos Ortiz– Dr. Fernando, o senhor fala muito nesta união familiar de seu tio e, posteriormente, da família Panattoni, como é este sentimento BUGRINO dentro desta família?
Dr. Fernando Panattoni – Vou apenas citar um fato em resposta a esta questão. Temos em família, um grande amigo, hoje conselheiro do GUARANI, Dr. Francisco Moraes Ribeiro Sampaio. Quando o amigo Francisco pediu sua esposa em namoro, ele perguntou se ela gostaria de ser sua namorada e o segundo grande amor de sua vida. Ela imediatamente contestou o fato de ser o segundo, ao que ele de pronto respondeu: “seria o segundo amor da minha vida, por que o primeiro é e sempre será o GUARANI”.
Ela de pronto aceitou e meu amigo Francisco, ao oficializar o noivado, repetiu o mesmo pedido, no que de pronto, ela também aceitou.
Antes do casamento, Francisco repetiu o mesmo pedido, para que aquela que agora se tornaria sua esposa, aceitasse ser o seu segundo maior amor, pelo resto de suas vidas, e ela novamente de pronto, aceitou. Quando voltaram da viagem de lua de mel, foram recebidos pelo pai de sua esposa para um almoço, em família. Almoçaram, conversaram e em um determinado momento, ele se levantou e começou a se preparar para sair, quando foi imediatamente questionado pela esposa sobre onde iria. Ele, então, apenas disse: “estou indo de encontro ao primeiro grande amor da minha vida, o GUARANI, pois sempre deixei claro que você seria o segundo, e você sempre assim aceitou”. Esta história e o amigo, eu apenas cito para dizer que minha esposa, hoje, diz que eu deveria ter adotado a mesma atitude do amigo Francisco, pois, em momento algum, eu lhe disse que ela seria o segundo maior amor de minha vida, mas ela acabou constatando este fato em todos os dias do nosso casamento. São simples brincadeiras, mas que ilustram nosso desmedido amor pelo clube (neste momento, o Dr. Fernando José Rezende Panattoni não se contém em risos, num misto de alegria e emoção, e seus olhos marejam em lágrimas, que não lhe caem pela face, num esforço para contê-las).
Neste momento, nos despedimos de Fernando José Rezende Panattoni, sobrinho de Ângelo Panattoni, o Camões para os companheiros de futebol, mas que aqui chamamos pelo carinhoso apelido de “Angelino”, pois toda a família BUGRINA, neste ato, recebe por seu membro. Espero ter conseguido apresentar a todos, mais um de nossos fundadores, a quem rendemos todas as nossas homenagens, nosso respeito, e o orgulho que traremos sempre em nossos peitos de sermos BUGRINOS de corpo, alma e coração.
“Angelino”, neste momento, te trazemos ao degrau mais alto da nossa historia, ao lado de seus outros onze companheiros, e lamentamos não ter você podido presenciar o acesso do GUARANI em 1949 à primeira divisão do Campeonato Paulista, nem a conquista maior de nosso glorioso BUGRE campineiro, o titulo Brasileiro de 1978. Mas nós, torcedores BUGRINOS apaixonados, sempre o carregaremos humildemente em nossos corações, em todos os jogos que estivermos, gritaremos também em seu nome.
Ao Dr. Fernando José Rezende Panattoni, nossos mais sinceros agradecimentos por ter apresentado seu ente querido, Ângelo Panattoni, à TORCIDA BUGRINA, que, neste ato o recebe de braços abertos.
Terminamos aqui, o capitulo Ângelo Panattoni, e nos despedimos de todos, ansiosos por abrirmos a próxima pagina da série “OS DOZE GUERREIROS”. Espero que todos possam, assim como eu, se emocionarem ao conhecer cada capitulo desta jornada ao encontro do GUARANI de todos nós.
Marcos Ortiz
Planeta Guarani[/vc_column_text][/vc_column][vc_column width=”1/3″][vc_widget_sidebar sidebar_id=”home_1″][/vc_column][/vc_row]